terça-feira, 22 de julho de 2008

Carta a um órgão.

Não, não é só pelo fato de que o amor machuca.
Mas sim porque o amor dói. Amar dói.
É por isso que não tenho vontade de amar.
Mas o coração é inteligente e age por si só.
Batidas involuntárias.
O amor nem sempreé inteligente porque não escolhe por quem bater.
Mas eu adoro meu coração, ele sempre me manteve feliz algum momento.
Cansei de falar mal da única coisa que pode me manter viva ou que pode me matar.
Coração, sou só você, sempre fui.
Na verdade... agora eu e você nos dividimos por um outro, não é, amigo coração?
Não é verdade que estamos amando?
Não é verdade que você sabe o que está fazendo?
Não me diga que sabe que estamos errados novamente, coração, por favor.
Perdoe-me, se chamei-te de estúpido, se te chamei de rato, se te afligi de qualquer modo.
Só peço-lhe que me digas se irei me ferir, arrependo-me de qualquer petulância.
Aceito qualquer relutância, mas peço perdão.
Peço que amar desta vez não seja um fardo.
Peço que peça à alma para fazer-lhe prestativo.
Sei que sou a imensa tola, a mais intensa amante e errada, mas jogamo-nos juntos nessa roubada.
Quero poder ter razão e só mais uma vez poder estar certa.
Quero que me ame como amas a quem amo.
Quero que bata por mim como bates por quem amo.
Só você eu deixo amá-lo com a mesma – ou maior – intensidade que eu.
Pois nunca terei nem ele ou você na mesma densidade que eu.
Pois nunca serei você e assim nunca serei mesmo eu.
Pois nunca serei ele pra poder te ter.
Ah coração, me dê uma brechinha, me dê perdão.
Perdão... sei até que odeio perdoar e coração não gosta de ódio.
Mas sabes muito bem que um ódio de vez em quando te ajuda a bater veloz, e sabe que nada que faço é pra te matar.
Não quero me matar, mesmo que amando já seja uma assassina vil.
Sou vil e você vale mil, estando dentro de mim.
CORAÇÃO, PODES ME OUVIR DAÍ?
Tum-tum.


Olha o que Shakespeare me fez.

Um comentário:

Anônimo disse...

Caramba, esse texto é de uma intensidade assustadora.
Tanta poesia, e abstração, e delírios, desconexos, irracionalidade, subjetividade... Tanto de tanto!
E é tão difícil chegar ao tanto...
E ficou de uma leveza penetrante! Tocante, inspirador.

Preciso lê-lo mais algumas vezes em horas diferentes pra absorver melhor cada linha e o que tem atrás de cada linha.
Mas consegui ouvir a melodia silenciosa também, acho que isso já é de grande valia. :)
Beijos.
Mami.